sábado, 5 de junho de 2010

Prefácio do Livro: MAGIA TELEVISIVA E RELIGIÃO: GLOBO E ATMOSFERA DA SEDUÇÃO de ROBSON TERRA.


Prefácio

Por José Luiz Ribeiro
Percorrer a magia televisiva guiado por Robson Terra é uma aventura que envolve ricos conhecimentos do Brasil popular onde a religiosidade surge no dia-a-dia e configura uma identidade nacional.

Partindo de um suporte amplo, eivado nos estudos da teoria da comunicação, o autor mergulha na vivência do sagrado, que aproxima o fiel do ritual e reveste de sentidos avassaladores no encontro de um Brasil pautado pela modernidade da mediação tecnológica.

O rádio e sua penetração em um Brasil arcaico, que se iluminou com o Rei da Vela, tornando-o possuidor de uma teia social cunhada no imaginário das cantoras famosas, abre as primeiras picadas para um estado nacional em que o melodrama dará seus primeiros passos para a difusão de histórias que encheram de lágrimas os olhos de nossas avós.

O traço da rota uniu o país e permitiu, nos anos cinqüenta, à televisão brasileira dar os seus primeiros passos na construção de uma hegemonia nacional. Assim como o rádio que nasceu em 22, a televisão dos anos cinqüenta evoluiu criando uma rede de consumidores que fizeram da novela um ponto de fuga para uma sociedade de olhos postos nos olimpianos.

Robson Terra mergulha em suas raízes e constrói, sem preconceitos, num tear imaginário uma belíssima reflexão sobre a mídia e a alma brasileira. Dono de saber sobre os caminhos percorridos vale-se da semiótica para levantar indícios signicos, icônicos e simbólicos para resgatar sinais de fumaça que, interpretados, nos abrem círculos de identificação entre o arcaico e o pós-moderno.

Como um profeta do apocalipse ele revela, nas entranhas da mídia, numa leitura muito própria, os fios que conduzem a sedução dos tempos modernos. Mostra como que, inconscientemente, o povo de Deus se transmuta no povo da mídia. Como a Rede Globo criou um público fiel através da atmosfera sedutora de narrativas que domesticavam corações e mentes.

Recupera a visão do homem comum, que se diverte com filmes B, chora com os dramas do cotidiano vividos pelos astros da telenovela e se anestesia com a realidade editada nos telejornais. Resgata este homem diante da produção midiática e seu comportamento de adesão. O espectador diante da tela que se acende e o integra virtualmente no espaço continental de um país que ri, chora se informa e aprende utilizando o filtro crítico que o guia em suas preferências.
Esta reflexão pode ser contestada, mas, certamente, não pode ser ignorada. Esta viagem toca na ferida de um mundo em que o sagrado perde sua instância diante de um tempo burocrático e banalizado. Ao percorrer esta obra os olhos do leitor serão contaminados pela sapiência da árvore da sabedoria. Percorrerá a lendária caminhada do rádio e da televisão brasileira revirando nos cantos ocultos da memória as frestas por onde o cronotopos se abastece de significados múltiplos criados numa relação especular que une homem e sociedade.

Num tempo em que os sofismas habitam a mente de uma sociedade fragmentada pela informação e pouco sedimentada na reflexão do conhecimento é preciso rever saberes e nada mais justo do que procurá-lo no religare do sagrado que liberta.
Um novo avatar se forma. Este paraíso criado pela sociedade do consumo
necessita de profetas que denunciem os ídolos de pé de barro. Neste caleidoscópio colorido com imagens tautológicas é preciso de sacerdotes que expliquem o mundo e, também de serpentes que revelem as vantagens do mundo da sabedoria oferecendo o fruto proibido que abre os olhos inocentes. Certamente o autor cumpre este papel de oferecer, como Prometeu, pistas para que o espectador, expulso do reino da midiocracia, conquiste o reino da cidadania.


José Luiz Ribeiro