
O folclore que envolve o pacto com o diabo rende boatos, histórias e enredos em filmes, romances, novelas, peças de teatro, teorias conspiratórias, enfim pano para manga e para o vestuário inteiro. A fábula sobre personagens de sucesso traz sempre o pano de fundo de que ele fez o famoso acordo de vida e negação da morte. A busca sobre o assunto no Google traz a citação: “Não é de hoje que artistas, cantores e cantoras realizam pactos com Satanás a fim de obter sucesso, fama e dinheiro. Muitas vezes pessoas são informadas desses acontecimentos e afirmam estarmos exagerando ou delirando em nossas afirmações. Que pai ou mãe compraria um CD de algum artista para presentear seus filhos sabendo que tal pessoa fez um pacto com o diabo? Essas informações são meticulosamente escondidas do público”.
Personagem literárioO folclore da mídia envolvendo os chamados olimpianos vem como espectro periférico da aura que envolve os incensados. Dizem que as estrelas conseguem a notoriedade porque fizeram pacto com o diabo, que um dia certamente vem buscar tudo o que lhe pertence. Com juros e correção de tempos de inflação. A expressão surgiu na Idade Média como o mito central de uma sociedade empenhada no processo de domesticação da sexualidade. Do pacto com Satanás recebem-se todas as benesses que simples mortais não podem ter acesso. Segundo a Wikipédia vender a alma ao diabo é considerado símbolo cultural da modernidade. Fausto, livro de Goethe que demorou sessenta anos para ser escrito, é um poema de proporções épicas que relata a tragédia do Dr. Fausto, homem das ciências que, desiludido com o conhecimento do tempo, faz um pacto com o demônio Mefistófeles que o enche com a energia satânica insufladora da paixão pela técnica e pelo progresso. Ler o livro remete à reflexão cruel.
Quem vende a alma?Na idade mídia somos cúmplices da “venda da alma” aos processos do mercado de consumo que a indústria cultural estimula. A busca do poder, dinheiro e riqueza, a troca da alma com o diabo, que nunca existiu, povoa o imaginário que envolve os astros famosos da telinha, do esporte e da música e que curiosamente morrem de forma surpreendente... Será que o leitor faria o pacto com o diabo para ter tudo o que sonha na vida, no que vê na TV, e no ajuste de contas entregaria sua alma a Mefisto? Na sociedade contemporânea, envolvida na espetacularização de si mesma, “o povo contempla-se no espelho” conforme Jean Baudrillard e na televisão “tentamos conformar a vida do lar com a imagem das famílias felizes que a televisão nos apresenta; ora, tais famílias limitam-se a ser a síntese divertida de todas as nossas”.
Baudrillard fala das compensações do homem alienado não ser apenas diminuído, empobrecido, mas intacto na sua essência, revoltado contra si próprio e transformado em inimigo de si mesmo. Por isso o sucesso do artista incomoda tanto os comuns. Os mortais segundo o autor francês se limitavam a ser simples no modo de sobrevivência (comer, beber, alojar-se, vestir-se), e as classes privilegiadas buscam adornos, castelos e jóias. Seremos eternos insatisfeitos e invejosos. Haja “diabos” para tantos pactos em tempos de crise e carências infinitas.
A mensagem no final da história remete ao tradicional: os bons alcançam o céu, os maus são punidos e os amantes vivem felizes para sempre. Fora com o diabo! É clássico!
Robson Terra
Jornalista, pesquisador e Mestre em Comunicação e Tecnologia
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