terça-feira, 31 de março de 2009

O livro feio sobre Roberto Carlos



Em 31/03/2009

O eterno rei da Jovem Guarda, Roberto Carlos, concedeu entrevista coletiva à imprensa, em São Paulo, e anunciou que pretende lançar disco com canções inéditas em 2009. O rei disse ainda que irá promover uma série de shows em 20 cidades e uma megaexposição na Oca, no Parque do Ibirapuera, em janeiro de 2010, para comemorar 50 anos de carreira.

O rei promete o início da turnê brasileira no dia de seu aniversário, 19 de abril, em Cachoeiro de Itapemirim – cidade natal e onde ele não se apresenta há 14 anos. Porém, a pergunta que não calou foi sobre a biografia proibida do rei. Motivo de polêmica desde a proibição e recolhimento de dez mil exemplares das livrarias, está publicada para download no terreno anárquico da internet. Dia desses foi publicada foto dos bastidores da novela Caminho das Índias em que um ator lia o livro em ambiente zen, enquanto esperava a gravação. Pânico geral. A biografia está proibida pelo direito e é vendida de fato na web. Nos sites de venda da internet, os preços variam de 90,00 a 450,00.

No dia 10 de março, a 18ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro decidiu mais uma vez a favor de Roberto Carlos na polêmica sobre a divulgação de sua biografia não autorizada. A proibição continua. Em janeiro de 2007, o cantor conseguiu ver o livro Roberto Carlos Em Detalhes, de Paulo César Araújo, ser recolhido das livrarias ao entrar com uma ação alegando invasão de privacidade. A polêmica se arrasta em rounds de disputa entre o autor e o cantor. O biógrafo, então, entrou com um recurso para tentar quebrar o embargo imposto à sua obra, mas não teve sucesso e, com isso, a publicação e comercialização do livro continuam proibidas.

Altíssimo padrão visual

Na última audiência, a advogada do autor afirmou, em entrevista, que "a proibição é absurda e que o livro é fantástico". Para quem acompanha RC desde os anos 1960, aqui surge um detalhe fundamental na proibição do livro que o rei não cita, mas que qualquer fã enxerga: a qualidade de impressão livro. Não é fantástica. A carreira de Roberto Carlos merece uma edição com conteúdo visual internacional. Acostumados à qualidade editorial da imprensa brasileira, os fãs também não gostaram da produção gráfica da edição censurada. A mídia impressa deu sustentação à carreira de astros da MPB com as revistas que fortaleceram a fama e auto-estima de artistas desde os anos 60. Muitos deles compram pela internet, através de assessores e amigos, a memória afetiva que remete às glórias do passado.

Bourdieu ensina que "a cultura média... se pensa por oposição à vulgaridade". O universo das revistas é chique e sofisticado desde o século passado. Contigo, Caras e as saudosas Sétimo Céu, Amiga, Manchete e O Cruzeiro podem, como diz Martín-Barbero, misturar "saberes que vêem de baixo e saberes que vêm de cima, saberes velhos e novos, astrologia e astronomia, medicina popular e menos popular..." E fotos dos ídolos. Muitos compram essas revistas que tratam da vida privada das pessoas para ler fofocas, olhar as fotografias, copiar modelos de roupas ou venerar celebridades. São publicadas fotos de grande qualidade, em cores estonteantes, chiclete para os olhos, em papel de altíssimo padrão.

A Editora Abril, a da arvorezinha, responsável pela edição de Contigo e Capricho, entre dezenas de outras, construiu sua história editorial com nível excelente de impressão. À época da Jovem Guarda, há mais de quarenta anos, fotos de Roberto Carlos e outros artistas eram publicadas em pôsteres coloridos e altíssimo padrão visual na revista Contigo. As revistas projetavam o que seria a TV em cores, que só chegou em 1972.

Janela fechada, lente embaçada
O fã quando procurou o livro sobre rei sofreu dissonante recepção com a decepção da qualidade do papel e das fotos. Pensou: "Roberto Carlos merecia uma edição mais sofisticada por sua trajetória como artista." E o livro que está sendo produzido pelo jornalista Okky de Souza, segundo a entrevista do rei, com certeza, terá o padrão RC de qualidade.

O conteúdo do livro proibido é revelado como motivo de polêmica e proibição. Isso já foi muito discutido... Mas o "Brasa" não viveu "um momento lindo" ou "tantas emoções" com o design da obra.

Para encerrar, Maria Celeste Mira, no livro O leitor e a banca de revistas, categoriza: "Numa sociedade cuja comunicação se baseia crescentemente na imagem (grifo nosso), essas revistas em que a fotografia predomina sobre o texto unem a visualidade característica da cultura popular tradicional, dos modernos meios eletrônicos e, por que não dizer, das artes plásticas. Além dos aspecto gráfico, elas preenchem algumas funções recorrentes na história das revistas: são janelas através das quais vemos o mundo; lentes indiscretas pelas quais espiamos a vida dos outros; vitrines dos produtos oferecidos ao nosso consumo real ou imaginário; espelhos nos quais buscamos encontrar a nós mesmos." A janela para a leitura do livro estava fechada, a lente das fotografias do livro embaçada e o papel também não ajudou.

Que venha o livro de Okky.

terça-feira, 24 de março de 2009

PROJAC E FUNDO DE QUINTAL


Há conteúdo novo no reino da televisão brasileira que, há muitos anos, vinha embalada pela monotonia criativa. A programação, durante anos, vive o repetir, sem fim, de modelos desgastados. Após a epopéia de sedução dos deuses olimpianos, astros e estrelas contratados a peso de ouro pelas emissoras, surgem na telinha personagens desconhecidos, baratos e excessivamente entusiasmados em comungar com a produção de conteúdo da TV. Nunca tantos rostos anônimos tiveram a oportunidade de mostrar o rosto na tela da televisão. Muitos dos programas de entretenimento e jornalísticos das emissoras apelam, sem limites, para o chamado conteúdo colaborativo que se revela como saída estratégica para recuperação da audiência que se reparte pelas centenas de opções oferecidas pelo zapping e ingerência das novas mídias.

A TV está convocando o público a enviar vídeos e comentários pela internet e usar o material nas transmissões. "Durante anos, a tentativa de unir a TV com a internet resumiu-se basicamente a duplicar o conteúdo em um outro meio de comunicação", afirmou Joel Hyatt, diretor-executivo da Current, um empreendedor de sucesso que fundou o canal junto com Al Gore. Nos testes iniciais, a empresa chamou os usuários a fazerem contribuições sobre vários assuntos, carregando fotos, animações, vídeos armazenados no YouTube, desenhos, comentários em texto e respostas via webcam. Um sucesso de interação!

Anônimos adquirem valor heróico

Os diretores brasileiros de TV descobriram a mina e promovem uma enxurrada de participação, via internet, nos programas na busca frenética pela audiência. O Fantástico, da Rede Globo, por exemplo, é o campeão de participações com os vídeos interativos após a exibição de cada matéria. Máquinas de lavar, cachorrinhos arteiros, crianças perplexas, casais enamorados e jogos de peladas do fim de semana consomem grande parte do programa, com participações pontuadas e visualizadas de norte a sul do Brasil.

O sucesso dos reality shows e do talk show dão nova cara à programação, que traz o modelo diferente de produção classificado como "neotelevisão". A TV deixa de ser o totem que marca a separação entre o mundo na tela e o auditório diante da tela. Segundo Giuseppe Mininni, "as redes de `efeitos de realidade´ do público na mídia têm para o publico da mídia. O fato de me ver na TV é um modo relevante de me afirmar, autorizo-me a acreditar que o valor do que sou depende daquilo que parece". Ou, como diz Patrícia Priest, "os anônimos na TV adquirem uma sensação de empowerment (empoderamento) porque podem-se perceber subtraídos da condição de anonimato e inseridos no Olimpo midiático que atribui valor heróico e semi-divino às celebridades de um instante".

O padecimento dos olhos

Desde o início da produção massiva de conteúdo, os editores de revistas, com os cupons premiados, e programadores do rádio, com participações por telefone e cartas dos ouvintes, buscam a identificação e interatividade como forma de expandir negócios. Com a invasão da internet, a produção televisiva cria mais um mecanismo de sobrevivência, pois os blogs, sites de relacionamento, como o mágico Orkut, a tela azul, o YouTube, a TV do adolescente, o próprio e-mail, videologs, podcasts, twitter, facebook e milhares de outros aplicativos formados são fascinantes instrumentos de interação.

Essa é nova forma de mídia social, voltada para criar, se envolver e influenciar as notícias e as informações que os internautas e amigos recebem. A CNN tem destacado materiais gerados pelo público. As emissoras brasileiras ocupam boa parte dos noticiários com material barato, sem custo, descartável, de baixa qualidade técnica, de alta interatividade e podem diminuir as equipes de produção, estimulando o desemprego nas redações e na teledramaturgia. Em breve pode entrar no ar a novela feita no fundo de quintal – o Projac popular – ou episódios curtos, diários, no horário que antecede a Malhação, gravados por midiáticos domésticos, da periferia ou interior, pois os milhões de internautas crescem em progressão geométrica.

Segundo Dietmar Kamper, "o padecimento dos olhos é a busca de camadas mais profundas, que se torna facilmente a primeira vitória das superfícies impenetráveis das imagens que sonegam as histórias, substituindo-as por mais imagens, mais superfícies, ao invés de profundidade e desdobramentos". A aqui o padecimento vira tortura, pois a falta de qualidade das imagens irrita o telespectador. O pior: a moda pegou

sexta-feira, 6 de março de 2009

Desenhos mais que animados


Desenhos animados sempre foram pauta de diversão e boas conversas para adultos e crianças. Servem também como tapa buracos na grade de programação das emissoras. A magia da animação consiste em “dar vida a coisas inanimadas ou dar uma espécie de vida diferente de a coisas vivas. Eles efetuam uma metamorfose, maravilhosamente presente nos animais, plantas e nuvens de tempestade...” E com a sincronia de efeitos sonoros mágicos ou onomatopéicos que a sonoplastia pode estimular. Desde o encantamento de “Branca de Neve”, nos anos 1930, que introduziu a figura humana e “Fantasia”, que transformou em imagens grande obras musicais, porém, de resultado discutível, até as novas produções, os traços em movimento promovem ilusão e envolvimento.

Muitos questionamentos são feitos ao conteúdo das animações. Dia desses na “TV Globinho”, o catecismo da programação televisiva, um filmete mostrava o professor Pateta. Os alunos da escola do mestre cão/homem lerdo eram absurdamente ousados, irreverentes, inconseqüentes, malvados, dissimulados, usavam revólveres em alguns takes, detonavam a escola, agrediam os colegas e ridicularizam o professor. Também com esse nome: Pateta! O desenho estava recheado de maldades e medo...Medo pelas crianças. Naquele horário muitas delas estão ligadinhas na telinha, são os “teledependentes” e vão, com certeza, reproduzir o modelo de comportamento na escola da vida real. Os efeitos nocivos e os significantes da cena são incorporados inocentemente ao comportamento delas como se fossem adequados, pois a TV ensina como viver melhor, ou como diz um slogan "A gente se vê por aqui!".

Elementos folclóricos

A maioria das animações são compostas por elementos sadomasoquistas com agressividade gratuita. A ausência do pai é substituída pelas mensagens de concepção adulta da realidade. Outra característica já revelada por estudiosos é a de que os parentes são secundários: tios, vovós e primos na ausência da autoridade e o reforço das figuras masculinas, os eternos solitários. Para Erwin Panofsky “os primeiros filmes de Disney, representaram, por assim dizer, uma destilação quimicamente pura de possibilidades cinematográficas. Eles conservam os elementos folclóricos mais importantes – sadismo, pornografia, o humor gerado por ambos, e a justiça moral – quase sem diluição e amiúde fundem esses elementos numa variação sobre o motivo primitivo e inexaurível de David e Golias, o domínio do aparentemente fraco sobre o aparentemente forte [...]” Existe cena mais sádica que Branca de Neve perdida na floresta? Existe: o incêndio na floresta que resulta na morte da mãe de Bambi. E as linhas sinuosas do corpo em strip-tease de Jéssica, a namorada sexy do coelho Roger Rabbit?

Brigas e algazarras

Os inocentes, coloridos e atraentes desenhos, a partir dos anos 1950 e 1960, na telinha da TV, podem fazem parte do cerco ao ser humano através da televisão, rádio, cinema, publicidade ou anúncios. E Zillman chamou de transferência de excitação, quando assistir a cenas violentas implica num estado de excitação fisiológica que pode ser transferido para outras situações da vida real. Os telespectadores mirins, inocentes midiáticos, reagem de maneira mais agressiva do que o normal quando expostos a situações que provocam emoções e transferem para a nova provocação o modelo do estão de excitação anterior. Por isso as brigas e algazarras nas escolas?

Dar forma de vida diferente a coisas vivas nos desenhos animados promove a nova forma de reação social. Na concepção dos desenhos trabalham-se esses conceitos. A produção dos videogames, um dos maiores nichos da indústria do entretenimento, segue a estratégia de produção inspirada na natureza humana denotada por Panofsky, no artigo “Estilo e meio no filme”.
Na recepção das mensagens subliminares estão acontecendo deformações de comportamentos sociais que a comunidade escolar ou familiar não pode controlar. A alfabetização midiática faz parte da construção social da realidade desde os anos setenta. Os desenhos, mais que animados, criam a ilusão de que protegem, dentro dos apartamentos, os pequenos das maldades da rua, mas na concepção de Piaget “as crianças menores se detêm nos aspectos mais superficiais das interações representadas nos filmes (ambiente físico e condutas explícitas) e os meninos maiores chegam a atribuir as motivações ocultas nas condutas, conjeturando sentimentos

BBB em baixa


"BBB 9" tem menor ibope de todas as edições; veja o gráfico
Ricardo Feltrin
Colunista do UOL

O programa "Big Brother Brasil 9" vai ficar marcado como a edição que menos atraiu atenção do telespectador. Nunca o reality show da Globo registrou médias tão baixas de audiência e marcou tão pouco share (porcentagem de TVs sintonizadas no universo de aparelhos ligados).

O programa estreou em 2002 e, desde 2005, a queda de ibope tem sido constante e sistemática.

Na média, até a última segunda-feira, o "BBB 9" está com 31 pontos de ibope. Isso significa que a edição atual do reality tem 16% menos audiência que a última edição, e 24% a menos que a anterior, o "BBB 7".

Em comparação com o "BBB 5", campeão de audiência, há 35% menos telespectadores diante da TV este ano.

Do total de TVs ligadas ("share"), a porcentagem daquelas que sintonizam o programa também tem caído bastante desde 2005. Em 2001, por exemplo, no primeiro BBB, 61% das TVs ligadas sintonizavam o reality da Globo. Esse índice chegou a impressionantes 70% no "BBB 5". Agora, no "BBB9", caiu para 51%.

Ainda é uma liderança folgadíssima para a Globo, mas as curvas mostram claramente que o público, ano após ano, está perdendo interesse na casa e em seus personagens.

Apesar disso, conforme Ooops! antecipou em janeiro, o "BBB 9" ainda detem o título de o mais lucrativo da história da emissora.
Fonte: UOL