terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Grupo Divulgação: 1971

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Magia televisiva e religião: meu mestrado




O artigo pretende traçar o paralelo entre a sedução da TV Globo e a utilização dos signos e dos ritos católicos que foram transformados após o Concílio Vaticano II. A expansão da Globo aconteceu no momento que a sociedade brasileira amargava a frustração com os novos caminhos da Igreja Católica e após transmissão "ao vivo" da chegada do homem à lua, em 1969. Pisar a lua é estar bem perto de Deus. No céu.O brasileiro vivia em estado de anomia. A proposta é polêmica, instigante e atual, pois a visita do Papa Bento XVI ao Brasil fez parte da campanha de retomada da Igreja na maior nação católica do mundo, a Rede Globo começa a perder pontos no Ibope para a Rede Record, de fundamentação evangélica e o Concílio Vaticano II continua gerando polêmicas no Clero.
Palavras-chave: igreja; anomia;televisão: Rede Globo

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www.redealcar.jornalismo.ufsc.br/resumos/R0184-1.pdf

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

NEY MATOGROSSO: Inclassificáveis


Inclassificáveis: a dicotomia do presente em Ney

Robson Terra
Mestrando em Comunicação
Inclassificáveis, novo show do mítico Ney Matogrosso, que estreiou em Juiz de Fora, revelou supresas, beleza e protestos em sua apresentação no Cine-Theatro Central. O repertório musical, em interpretação magistral, define o que Ney denuncia no novo trabalho. As ilegalidades e falcatruas do poder que engordam contas bancárias e folhas de corrupção, a imoralidade da sociedade contemporânea são as mazelas expostas... O espetáculo tem a marca de Ney, desde o fim dos Secos e Molhados, de não fazer concessões, de ousar sempre. Um show político. Atrevido. Ele canta o que quer e como quer. É um privilégio que cantor não abre mão. Por isso, é reverenciado há mais de trinta anos. As músicas pouco conhecidas, não geram identificação com a platéia que busca o chica-chica-bum, a movimentação frenética, irreverente e o imaginário musical dos anos 70 e 80. "Mal necessário", de Mauro Kwitko, sucesso dos anos 80, ajuda a compor o mosaico de confissões subliminares que o artista sugere. A surpreendente "Cavaleiro de Aruanda", de Tony Osanah, gravada por Ronnie Von, nos anos 70, envolve o público no passeio místico que Ney ameaça fazer, mas não completa. São dois shows.Visual e repertório.Duas leituras. A estética com apelo à memória da carreira e pesquisa de materiais ousados e inovadores e o repertório de vanguarda, político, de protesto, mas distante do aspecto do envolvimento do visual. Imagens de sonho para escancarar a realidade de pessoas inclassificáveis. Nós. A beleza e riqueza estética do cenário de Milton Cunha e figurinos inspirados de Ocimar Versolato remetem a ambientes diversos emoldurados por telões gigantes, ao fundo, que caem no alinhavo do roteiro, como páginas de um livro que o artista escreve. Impactante. Pinçando frases aqui e ali, do repertório, em sua maioria da novíssima safra da música popular brasileira monta-se o grande memorial da vida, obra e personalidade do artista. É confessional e testemunhal, remetendo, em síntese, ao "é preciso estar atento e forte. Não temos tempo de temer a morte". São vinte e uma canções - Cazuza continua onipresente - desfiadas em virtuose de um dos melhores intérpretes do Brasil, em atuação vigorosa.Mais duas para o bis e aparece, aqui, o melhor figurino do show. A voz claríssima acentua recursos brilhantes. Ney estampa frescor juvenil na emissão potente e clara dos agudos e nuances interpretativas que o público fiel e cativo conhece. Mas não reconhece. Perde a empatia de outros shows como "Bandido" e "Destino de Aventureiro". O público não identifica o repertório. A estética exótica, quase intergalática do clipe de "Flores astrais" de 1974, reaparece, seduz, é onírica, de sonho, mas as canções não dominam a emoção, não estimulam o sentimento ou catarse de outros momentos da carreira. O resultado é dicotômico.

Em eterna metamorfose ambulante as nuances interpretativas e corporais continuam sendo o estandarte do artista. Corpo coberto por malha fina bordada e outra estampando desenhos exóticos, figuras egípcias, tangas e tangas, rumbeiras e capacetes magistrais remetem aos melhores momentos da carreira de Ney. E um divã que serve de apoio para a troca de roupas e pequenos descansos. O teleprompter, dispositivo eletrônico, para ler as letras,que ele afirmou em entrevista não ter decorado, ainda, limita a movimentação do cantor. Ele quase não sai do centro do palco, sobe uma rampa, mas não apresenta a feérie que o público exige. A iluminação espetacular é o trunfo para criação do clima onírico e tem lugar garantido no melhor do show. Uma especialidade do artista. A banda é competente e segura. Ney permite, com extrema generosidade, sentado no divã, que os músicos façam participação intimista rica. Os músicos Júnior Meirelles e Emílio Carreira são emblemáticos na definição do show. Emílio, do tempo dos Secos e Molhados é figura de ontem, com presença juvenil e definitiva, na direção musical. Envolvente. Júnior Meirelles, jovem artista dá pistas do potencial além da guitarra e violão.Tem um timbre de voz rico e participa do melhor número do espetáculo, quando os músicos sentam no divã e cantam juntos, em dueto inusitado.A intuição sensível de Ney desenvolve a lembrança do passado com Emílio e faz a ponte com o futuro em Meirelles. Mágico. Nesse momento, interpretar "Pra não morrer de tristeza" levaria o público ao delírio. O nome das músicas não se sabe pois não havia programa ou roteiro disponível para o público. Os aplausos são profissionais, reconhecidos, mas sem a overdose de outros momentos. Ney continua devendo um show com o repertório que o consagrou e faz o público cativo, que buscas pistas de reconstrução das emoções da carreira e que ele, intuitivamente, não oferece.

sábado, 5 de janeiro de 2008

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

QUEM É ROBSON TERRA?

A imaginação do sonho possível


Nasci Robson Terra, em 28 de setembro de 1954. Parece que foi ontem que me
descobri menino pelas ruas de Chácara, Minas Gerais, caminhando pelos trilhos nos pastos que levavam ao sítio de minha avó Piedade. Marlene Terra, meu pai com nome de mulher e Maria de Lourdes Morais Terra, a mamãe, diziam que eu era a celebração do grande amor que eles viveram. Cresci frágil, rodeado de cuidados pois as doenças da infância já haviam levado minha irmã Terezinha. Vi nascer Gilmar e Deise, manos queridos. Morava em frente ao Grupo Escolar Barão do Retiro onde aprendi as letras, detestava números e imaginava histórias. O rádio era o companheiro preferido dos parentes e assim a comunicação começou a entrar em meu sangue nas ondas Rádio Nacional do Rio de Janeiro com a sedução de vozes como as de Daisy Lúcidi, Roberto Faissal, Domício Costa, Elza Gomes, Abigail Maia e os programas de auditório onde Marlene e Emilinha disputavam aplausos de fãs enlouquecidas. Ah, as novelas da Nacional me estimulavam varrer o terreiro de casa em três horários, onde narrava e vivia histórias de amores dolorosos e finais encantadores.

No Sítio dos Pintos, onde moravam os avós paternos e tios inteligentes, conheci as revistas, num caixote que ficava debaixo da cama de Piedade. Ao puxar a caixa para ler os gibis tinha a sensação da descoberta de um tesouro de sonhos, letras, desenhos e fotos que faziam a ponte com o mundo além das bananeiras e estradas poeirentas. Em 1964, após o Concílio Vaticano II, que desmontou o rito da Igreja Matriz de São Sebastião, e a “Revolução de 64”, papai, lavrador, comprou um dos primeiros aparelhos de televisão da cidade. Eu rezava diante da caixa mágica como se fosse a nave da Igreja. Vi Sérgio Cardoso com o Dr. Valcourt de “O preço de uma vida” e Nívea Maria, mocinha. Assisti quase todas as novelas a partir dali. Lembro-me de atores e cenas inteiras. Theresa Amayo, Glauce Rocha, Marieta Severo, Henrique Martins,Sérgio Cardoso e Ana Ariel eram meus ídolos.Acompanhei a ascensão e queda de várias emissoras de TV e rádio.

O arcabouço da comunicação se estruturava em minhas fantasias. Montava pequenos espetáculos de circo, quebrando elementos de antena da TV, para transformá-los nas peças do atirador de facas.Ana Clara, minha prima e parceira, corria o risco de levar uma flechada. Os vilões de novelas que me cercavam na TV e rádio, apareciam nas ruas da cidade, na profunda estranheza que eu causava num ambiente rude e sem sensibilidade. Enfrentei a rejeição de meio mundo com coragem e determinação pois antevia que a felicidade de viver na pachorrenta cidade, passava pela imaginação. Ela sempre me salvou nas situações limite que vivi. Era capaz de desmaiar, de mentirinha, quando alguém queria me agredir. Mais tarde descobri que só o teatro salva! Fui ser coroinha pois o ritual canônico me seduzia. Fui expulso pelo padre pois transformei a minha igreja num teatro (de verdade!). Fotonovelas aos montes,ídolos como Michela Roc, Sandro Moretti, Maria Giovannini,Germano Longo, Gabriela Farinon, Franco Andrei e Rossela Daquino, a contação de histórias da avó materna Maria Espanhola, programas de rádio, os livros de alfabetização “As mais belas histórias “de Lúcia Casassanta, quadrinhos infantis e até o missal da Igreja ocupavam o tempo livre para estimular o mundo da fantasia.
O cinema aos sábados e domingos, os filmes B dos anos 1930, como "Aliado Misterioso", circos e touradas que passavam por lá competiam com o meu amor pelos ciganos que aportavam nos pastos. Era louco para ser roubado por eles.Ao som de Caetano Veloso em Alegria, Alegria, me descobrir homem. Indescritível o primeiro prazer estimulado pela imaginação...ela de novo! Vi o homem pousar na lua, conclui o famigerado ginásio comercial e sabia que a alforria do universo rude estava nos estudos.
Cheguei em Juiz de Fora, em 1970, junto com a conquista do tri-campeonato da seleção brasileira. Descobri o teatro no Grupo Divulgação, onde fiz escola por doze anos envolvido com a pesquisa da dramaturgia brasileira e pensadores estrangeiros. Na troupe dirigida por José Luiz Ribeiro, renomado diretor de teatro e professor universitário, descobri a comunicação como ciência. Enlouqueci. Então ler revistas, livros, ouvir rádio e ver televisão não era “coisa de vagabundo” como ouvi a vida inteira na rua? O Secos & Molhados, com Ney Matogrosso, assinava novas posturas em minha vida artística. Mergulhei no universo dos meios e mensagens. Aprovado entre os primeiros no vestibular de jornalismo da Universidade Federal de Juiz de Fora, em 1974, o patinho feio descobriu-se cisne. Porém, outro impasse se apresentava: a falta de dinheiro para tudo! Um concurso para o Banco do Brasil resolveu a situação da família. Casa, dinheiro, carro, enfim o mundo da sobrevivência estava conquistado. Banco, teatro, família, pesquisas, viagens, carnavais e produção cultural, pautaram a nova vida até 1995, quando o Banco do Brasil, promoveu o plano de demissão voluntária. Com a indenização desenvolvi o projeto “Teatro vai à escola” de difusão da arte cênica para mais de quinhentas mil crianças. Fui estudar marketing para vender. Que nada! Sou artista! Com a explosão de universidades privadas, no Brasil, hoje, busquei espaço como professor de assuntos sobre a televisão, revistas, rádio, cinema e expressão cênica. Já
paraninfei várias turmas. Vivo da imaginação que aliada ao conhecimento me faz sentir respeitado na cidade e região. Em rede nacional vivi grande transformação ao ser convidado para sentar no sofá do Programa do Jô, em 2004. Meu lugar no mundo mudou. Conquistei o titã da comunicação com imaginação.
Hoje, alinhavo fases da vida e momentos vividos ao conteúdo das
disciplinas do Mestrado, que promove novamente o meu encontro com os cisnes do
conhecimento. Esperei trinta anos por essa celebração. Reencontro minha biblioteca
amarelada pelos anos. Ela saltita de felicidade ao perceber que os livros esperaram anos e a hora certa para fundamentar pesquisas. Estão muito inquietos e bailam a noite inteira. Quase não me deixam dormir.

Dona Titinha, a mamãe, faleceu há treze anos, mas hoje, sabe, que os desenhos que eu fazia no fubá ou farinha de trigo, as novelas ao varrer o terreiro e as músicas que cantava, me salvaram e garantem a sobrevivência com simplicidade, mas tranqüila. Enlouquecido pelo trabalho e a realização artística, não investi no amor pois a minha vida é como uma fotonovela que se renovava a cada semana, ou capítulo diário de folhetim.
Preciso viver novas histórias todos os dias.E imaginar finais felizes!