segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

NEY MATOGROSSO: Inclassificáveis


Inclassificáveis: a dicotomia do presente em Ney

Robson Terra
Mestrando em Comunicação
Inclassificáveis, novo show do mítico Ney Matogrosso, que estreiou em Juiz de Fora, revelou supresas, beleza e protestos em sua apresentação no Cine-Theatro Central. O repertório musical, em interpretação magistral, define o que Ney denuncia no novo trabalho. As ilegalidades e falcatruas do poder que engordam contas bancárias e folhas de corrupção, a imoralidade da sociedade contemporânea são as mazelas expostas... O espetáculo tem a marca de Ney, desde o fim dos Secos e Molhados, de não fazer concessões, de ousar sempre. Um show político. Atrevido. Ele canta o que quer e como quer. É um privilégio que cantor não abre mão. Por isso, é reverenciado há mais de trinta anos. As músicas pouco conhecidas, não geram identificação com a platéia que busca o chica-chica-bum, a movimentação frenética, irreverente e o imaginário musical dos anos 70 e 80. "Mal necessário", de Mauro Kwitko, sucesso dos anos 80, ajuda a compor o mosaico de confissões subliminares que o artista sugere. A surpreendente "Cavaleiro de Aruanda", de Tony Osanah, gravada por Ronnie Von, nos anos 70, envolve o público no passeio místico que Ney ameaça fazer, mas não completa. São dois shows.Visual e repertório.Duas leituras. A estética com apelo à memória da carreira e pesquisa de materiais ousados e inovadores e o repertório de vanguarda, político, de protesto, mas distante do aspecto do envolvimento do visual. Imagens de sonho para escancarar a realidade de pessoas inclassificáveis. Nós. A beleza e riqueza estética do cenário de Milton Cunha e figurinos inspirados de Ocimar Versolato remetem a ambientes diversos emoldurados por telões gigantes, ao fundo, que caem no alinhavo do roteiro, como páginas de um livro que o artista escreve. Impactante. Pinçando frases aqui e ali, do repertório, em sua maioria da novíssima safra da música popular brasileira monta-se o grande memorial da vida, obra e personalidade do artista. É confessional e testemunhal, remetendo, em síntese, ao "é preciso estar atento e forte. Não temos tempo de temer a morte". São vinte e uma canções - Cazuza continua onipresente - desfiadas em virtuose de um dos melhores intérpretes do Brasil, em atuação vigorosa.Mais duas para o bis e aparece, aqui, o melhor figurino do show. A voz claríssima acentua recursos brilhantes. Ney estampa frescor juvenil na emissão potente e clara dos agudos e nuances interpretativas que o público fiel e cativo conhece. Mas não reconhece. Perde a empatia de outros shows como "Bandido" e "Destino de Aventureiro". O público não identifica o repertório. A estética exótica, quase intergalática do clipe de "Flores astrais" de 1974, reaparece, seduz, é onírica, de sonho, mas as canções não dominam a emoção, não estimulam o sentimento ou catarse de outros momentos da carreira. O resultado é dicotômico.

Em eterna metamorfose ambulante as nuances interpretativas e corporais continuam sendo o estandarte do artista. Corpo coberto por malha fina bordada e outra estampando desenhos exóticos, figuras egípcias, tangas e tangas, rumbeiras e capacetes magistrais remetem aos melhores momentos da carreira de Ney. E um divã que serve de apoio para a troca de roupas e pequenos descansos. O teleprompter, dispositivo eletrônico, para ler as letras,que ele afirmou em entrevista não ter decorado, ainda, limita a movimentação do cantor. Ele quase não sai do centro do palco, sobe uma rampa, mas não apresenta a feérie que o público exige. A iluminação espetacular é o trunfo para criação do clima onírico e tem lugar garantido no melhor do show. Uma especialidade do artista. A banda é competente e segura. Ney permite, com extrema generosidade, sentado no divã, que os músicos façam participação intimista rica. Os músicos Júnior Meirelles e Emílio Carreira são emblemáticos na definição do show. Emílio, do tempo dos Secos e Molhados é figura de ontem, com presença juvenil e definitiva, na direção musical. Envolvente. Júnior Meirelles, jovem artista dá pistas do potencial além da guitarra e violão.Tem um timbre de voz rico e participa do melhor número do espetáculo, quando os músicos sentam no divã e cantam juntos, em dueto inusitado.A intuição sensível de Ney desenvolve a lembrança do passado com Emílio e faz a ponte com o futuro em Meirelles. Mágico. Nesse momento, interpretar "Pra não morrer de tristeza" levaria o público ao delírio. O nome das músicas não se sabe pois não havia programa ou roteiro disponível para o público. Os aplausos são profissionais, reconhecidos, mas sem a overdose de outros momentos. Ney continua devendo um show com o repertório que o consagrou e faz o público cativo, que buscas pistas de reconstrução das emoções da carreira e que ele, intuitivamente, não oferece.

4 comentários:

ROBSON TERRA disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ROBSON TERRA disse...

Ronaldo Rossignoli enviou o seguinte comentário:

Achei a reportagem referente ao show de Ney Matogrosso fantástica. Palavras esclarecedoras e bem definidas para o artista, fizeram desse texto uma verdadeira página de consulta para quem gosta de arte e biografias ousadas. Adorei mesmo. Parabéns !!!! Seu blog está sensacional. Ronaldo.

Anônimo disse...

meu comentari é pela bela foto da revista capricho de quem vou revelar o meu segredo eu adorava ler fotonovelas




FOTONOVELAS

É muito bonito e dá uns ares de pessoa culta falarmos sobre as nossas leituras prediletas. E alguns se impressionam quando citamos nomes consagrados na literatura nacional ou estrangeira. Por exemplo: Saramago, Sartre, Camus, Bukowski(que o meu filho adora ler), Beuvoir, João Ubaldo, Clarice Lispector, Manuel Bandeira, João Cabral, Huxley, Hemingway, Graciliano Ramos, Lya Luft, Gabriel Garcia Márquez e mais uma porrada de gente(menos Paulo Coelho. Este nem entrando na ABL vale). Tudo bem. Já li um bocado de coisa deste pessoal aí. Mas o que interessa nesta mensagem são as confissões do nosso passado negro no mundo das letras.

Aqui vai a minha confissão: EU JÁ LI MUITO FOTONOVELAS! Será que os leitores mais jovens deste arremedo de email sabem o que é isto? Há tanto tempo não vejo mais nenhuma revista que as tragam em seu bojo.

As que eu mais gostava eram as que saiam na Revista Grande Hotel. Todas elas de produção italiana. É isto mesmo. A Itália não era só Fellini, Carlo Ponti e Antonioni não. Produzia também as melhores fotonovelas. Bonitas fotos em preto e branco e histórias com enredos bem legais. Ao menos eu achava naqueles tempos. Eu ficava babando duas fotoatrizes: a Katiúscia e a Paola Pitti. queria ser linda igual a elas.

Agora em novembro de 2007 tive oportunidade de passear no teu orkut e achei legal tua prgunta se eu ja halia lido e relembrei dos meus ídolo: Franco Dani e sua famosa covinha no queixo. . Ihhh estamos ficando velhos. Lembro-me também das fotonevelas cuja temática era espionagem: Jacques Douglas.

Tinha as fotonovelas nacionais na Revista Sétimo Céu. Fotos coloridas, mas histórias mal costuradas. Lembro de uma onde, o hoje consagrado ator televisivo, Marcos Paulo contracenava com a Djenane Machado, filha do famoso diretor de cinema Carlos Manga. Era uma historinha bem besta. Sem fazer trocadilhos se passava no Jóquei Clube do Rio.

O legal nestas histórias era que sempre o bem vencia o mal. O galã terminava com a mocinha sofrida. E eram felizes para sempre. Não faltava um pôr de sol na foto final. E obviamente o jovem casal estava de mãos dadas olhando para o infinito. Maior clichê impossível. Mas as atuais telenovelas também não terminam assim?



Há anos não vejo mais estas revistas ou similares. Acho que sumiram todas. Nem em sebo as encontro. Será que todas foram queimadas?

E ai você também lia fotonovelas? Ou não vai confessar aqui esta escorregadela intelectual em sua vida? Ficou com vergonha foi?(risos). Quais eram as revistas que você lia? E os leitores mais jovens e menos saudosistas sabem lá de que diabos estou a falar? Quais eram os artistas deste tipo de arte que você mais admirava? Quais eram os nomes das outras revistas? Você consegue lembrar?
um grande beijo sudosista,da leitora assidua de su bloguer REBECA PEREZ SILVA

JHUESSLER disse...

Robson, na matéria onde você fala de fotonovela, sétimo céu entre outras, você cita Djenane Machado como filha de Carlos Manga? Ela é filha de Carlos Machado...nome famoso nas noites, shows cariocas no passado ...,