sexta-feira, 26 de setembro de 2008
Traumas das imagens
Theresa Amayo, como Lien, na novela Passo dos Ventos (TV GLOBO)
Sites como o www.tehistoria.com.br, que nos recebe tão bem, dos mais completos sobre a história da TV, são puro deleite para os apaixonados pelas imagens da telinha e sua epopéia histórica. Busca-se aqui referência do passado recente, pois a história da TV brasileira tem pouco mais que cinqüenta e oito anos. Uma balzaquiana. No primeiro contato com o raro do Tele Historia descobre-se a equipe preocupada com a memória do veículo do efêmero num país sem mem...Esqueci! Programas de todos os canais estão listados aqui e muitos ainda aguardando o complemento das informações sobre elencos, enredos, diretores etc.
A coluna Mofo TV, do colunista José Marques Neto, o "ex-dentista" no Google, remete ao tempo tão longe e tão perto naquilo que Deleuze chamou de memória involuntária. Quem vem aqui busca rever ou reencontrar o contato com as imagens percebidas ao longo da vida e no sofá, como telespectador, nas centenas ou milhares de horas frente ao ecrã. E faz a ponte entre o passado e o presente atualizado por segundo com a programação de hoje, em tempo real, anunciada no "Agora na TV".
Ao encontrar a imagem que marcou a vida ou provocou algum transtorno cura-se de um traumatismo que foi produzido pela tela mágica eletrônica. Se não cair no túnel do tempo do computador, como os vídeos do Youtube, as compras de publicações impressas de época estão fazendo a alegria de vendedores do Mercado Livre. Parte-se em busca do tempo perdido para recompor a história e cultura de cada um.
Imagem verbalizada
Essa imagem da história ou cultura está acorrentada no intelecto do telespectador ou leitor pois a ruptura aconteceu no passado. Explica-se: o procedimento de leitura da fotografia , como é percebido ao primeiro contato, é o mistério que Bruner e Piaget ajudam a esclarecer: “não há percepção sem categorização imediata, a fotografia é verbalizada no momento mesmo em que é percebida ou melhor ainda: ela só é percebida verbalizada (ou se a verbalização tarda, há uma desordem na percepção, interrogação, angústia do sujeito e traumatismo). Assim a imagem percebida é apreendida imediatamente por uma meta-linguagem interior”.
As cenas que vão promover o traumatismo vão depender da história de vida do telespectador (ou leitor) da sua cultura, do entendimento e conhecimento do mundo. Isto. Cada um tem o seu mundo de coisas, único, específico e particular. Individual como a impressão digital que ontem era "coisa de analfabetos" e, hoje, o que há mais sofisticado da "tecno" em identificação legal e controle de patrões sobre empregado.
Cenas categorizadas
Colecionadores apaixonados buscam capas de revistas, fotonovelas, fotografias de jornais, álbuns de família, músicas eternas, cenas de filmes ou novelas que ficaram como seqüela na memória para reconstituir os signos que categorizaram suas vidas. "O trauma é inteiramente tributário da certeza de que a cena realmente teve lugar". Cenas traumáticas, dizem os teóricos, são raras. Milhares passam despercebidas e não geram marcas. Outras são as fotografias traumáticas que Roland Barthes cita como incêndios, naufrágios, catástrofes e mortes violentas que foram colhidas "ao vivo".
Entre os traumas imagéticos do colunista estão a primeira aparição dos Secos e Molhados, no Fantástico, em 1973... Dos anos 60, a novela com Tutuca "O Xerife Jiló contra a quadrilha do terror", o Doutor Valcourt, de Sérgio Cardoso em "O preço de uma vida”, os humorísticos com Consuelo Leandro, "A festa do Bolinha" com Jair de Taumaturgo, na saudosa TV Rio; o programa do Capitão Furacão e a chinesa Lien, personagem de Theresa Amayo em "Passo dos Ventos", da TV Globo e, recentemente, a cena da morte de Odete Roittman e a cobertura dos atentados de 11 de setembro. E você? Liste aqui as imagens de suas buscas...
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
Identificação: fenômeno dramático
A TV brasileira era o altar sagrado onde deuses olimpianos celebravam a submissão de milhões de telespectadores. Acima do bem e do mal impunham à audiência a programação que “bruxos” da criação consideravam conveniente. Por muitos anos deu certo. A TV brasileira alcançou índices estratosféricos no Ibope. Essa estratégia deu tão certo que está mumificada há mais de trinta anos. Poucas são as novidades. Criatividade fragilizada.
O segredo estava no fenômeno da identificação da audiência com a grade de programas que ela não podia escolher e era escolhida. Assistia-se ao que os executivos competentes decidiam nos gabinetes mitológicos. Com as novas mídias o cordão umbilical se rompeu, a audiência pulverizou-se e é preciso buscar o elo perdido, ou pelo menos, segurar, por mais algum tempo, os telespectadores ainda cativos.
Prazer da imitação
Aqui a palavra identificação é a chave para se entender esse domínio sobre a audiência. Vem da teoria psicanalítica como “a forma mais originária do laço afetivo com um objeto”. A chamada “fase do espelho” quando o telespectador se identifica com seu próprio olhar e se sente como foco de representação, como sujeito privilegiado, central e transcendental da visão. É o lugar de Deus, de sujeito que tudo vê e se vê ”.
Ou como citou Friedrich Nietzsche, a identificação é fenômeno dramático fundamental, presente em todas as artes do espetáculo, que é “ver a si mesmo metamorfoseado diante de si e agir agora como se tivesse entrando em outro corpo em outra pessoa”.
Interatividade artificial
O frenesi pela identificação justifica a interatividade excessiva e artificial promovida como isca pelos programas. Está no vídeo do seu filho na TV, sorrindo ou chorando, o concurso do bebê mais bonito, o bola murcha e o bola cheia, quadros como “De volta para casa”, o BBB, no bate-papo com a estrela após a participação no programa, nas perguntas dos internautas respondidas durante o futebol ou transmissão do carnaval, do fã de carteirinha ou o slogan “A gente se vê por aqui” e outros. Interatividade a todo custo para manter cativa a audiência.
A novela “Três Irmãs” busca essa identificação com estrelas do horário das oito. Para trazer os jovens de volta para frente da telinha ao mundo do surf se juntam mocinhas e garotos, um festival de pranchas e equipe especializada em filmagens nas ondas. Ao mesmo tempo busca reforço no elenco maduro e situações já vistas destinadas ao público mais velho.A personagem de Regina Duarte é a mistura de Mary Poppins (do cinema) com a antológica Viúva Porcina, com o mesmo sotaque e menos histeria.
O público da TV “se identifica por simpatia a este ou àquele personagem em virtude de seu caráter, de seus traços psicológicos predominante de seu comportamento geral, assim como na vida sentiríamos simpatia por alguém, devido, acredita-se, à sua personalidade”.
Malhação, Malhação e Malhação
A TV tem grande capacidade de mudar a embalagem do mesmo produto e talvez esteja aqui o segredo do seu sucesso ou da fuga da audiência que já não suporta ver o mesmo enredo repetido eternamente com o rodízio de personagens/atores. Se as pesquisas sobre fuga de audiência revelam o jovem como vilão, que após a “Malhação” foge para a Internet, a saída foi criar a “Malhação” das seis, a “Malhação” das sete. Após o Jornal Nacional tudo está mais ou menos garantido. Por enquanto...
Encerrando com Roland Barthes: “Devoro com o olhar qualquer rede amorosa e nela detecto o lugar que seria meu se dela fizesse parte”.
O segredo estava no fenômeno da identificação da audiência com a grade de programas que ela não podia escolher e era escolhida. Assistia-se ao que os executivos competentes decidiam nos gabinetes mitológicos. Com as novas mídias o cordão umbilical se rompeu, a audiência pulverizou-se e é preciso buscar o elo perdido, ou pelo menos, segurar, por mais algum tempo, os telespectadores ainda cativos.
Prazer da imitação
Aqui a palavra identificação é a chave para se entender esse domínio sobre a audiência. Vem da teoria psicanalítica como “a forma mais originária do laço afetivo com um objeto”. A chamada “fase do espelho” quando o telespectador se identifica com seu próprio olhar e se sente como foco de representação, como sujeito privilegiado, central e transcendental da visão. É o lugar de Deus, de sujeito que tudo vê e se vê ”.
Ou como citou Friedrich Nietzsche, a identificação é fenômeno dramático fundamental, presente em todas as artes do espetáculo, que é “ver a si mesmo metamorfoseado diante de si e agir agora como se tivesse entrando em outro corpo em outra pessoa”.
Interatividade artificial
O frenesi pela identificação justifica a interatividade excessiva e artificial promovida como isca pelos programas. Está no vídeo do seu filho na TV, sorrindo ou chorando, o concurso do bebê mais bonito, o bola murcha e o bola cheia, quadros como “De volta para casa”, o BBB, no bate-papo com a estrela após a participação no programa, nas perguntas dos internautas respondidas durante o futebol ou transmissão do carnaval, do fã de carteirinha ou o slogan “A gente se vê por aqui” e outros. Interatividade a todo custo para manter cativa a audiência.
A novela “Três Irmãs” busca essa identificação com estrelas do horário das oito. Para trazer os jovens de volta para frente da telinha ao mundo do surf se juntam mocinhas e garotos, um festival de pranchas e equipe especializada em filmagens nas ondas. Ao mesmo tempo busca reforço no elenco maduro e situações já vistas destinadas ao público mais velho.A personagem de Regina Duarte é a mistura de Mary Poppins (do cinema) com a antológica Viúva Porcina, com o mesmo sotaque e menos histeria.
O público da TV “se identifica por simpatia a este ou àquele personagem em virtude de seu caráter, de seus traços psicológicos predominante de seu comportamento geral, assim como na vida sentiríamos simpatia por alguém, devido, acredita-se, à sua personalidade”.
Malhação, Malhação e Malhação
A TV tem grande capacidade de mudar a embalagem do mesmo produto e talvez esteja aqui o segredo do seu sucesso ou da fuga da audiência que já não suporta ver o mesmo enredo repetido eternamente com o rodízio de personagens/atores. Se as pesquisas sobre fuga de audiência revelam o jovem como vilão, que após a “Malhação” foge para a Internet, a saída foi criar a “Malhação” das seis, a “Malhação” das sete. Após o Jornal Nacional tudo está mais ou menos garantido. Por enquanto...
Encerrando com Roland Barthes: “Devoro com o olhar qualquer rede amorosa e nela detecto o lugar que seria meu se dela fizesse parte”.
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