quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Close-up: íntima relação


A técnica do close-up criada por David Griffith reduziu os exageros interpretativos e teatrais utilizados pelos atores do cinema dos primeiros tempos.
O close-up reforça a cena dramática tensa onde as emoções são concentradas no mapa de linhas, traços e desenhos do rosto do personagem elemento fundamental da dramaturgia da tela, seja TV ou cinema, expõe tensões e sentimentos da psicologia do personagem na narrativa. A novela “A Favorita” usa e abusa do recurso cinematográfico para expor as canalhices de Flora e seus folclóricos amigos vilãos e a inocência dos pobres enganados na falange do bem: a família do empresário Gonçalo.

O big close-up da tela cheia, inteira, é quase o espelho dos sentimentos da ação expondo ódio, cansaço, intenções ocultas, dores, prazer ou doenças. Está definitivamente marcado nos momentos mais tensos da ação. É diálogo sem fala.

Mas o que consegue o close-up?

Segundo Erwin Panofsky “ao nos mostrar em ampliação, o rosto do que fala ou dos que ouvem, ou ambos, alternadamente, a câmara transforma a fisionomia humana num imenso campo de ação onde – conforme as qualificações dos intérpretes – cada movimento sutil das feições, quase imperceptível a uma distância natural, se transforma num acontecimento expressivo no espaço visível e por conseguinte integra-se completamente ao conteúdo expressivo da palavra falada...”

A tela pode transmitir os sentimentos e sensações. O enquadramento do rosto exige dos atores a representação contida e centrada na emoção interior. Como um pintor que desenha sem pincel de dentro para fora, da alma para o mundo exterior, com seus comunicantes cinestésicos, dos sentidos, comunicando direto ao olho do telespectador. Como um outdoor que sobrepõe ao transeunte a imagem gigante e sufocante para que a mensagem ou estado de emoção seja percebida rapidamente pelo destinatário.

Pregador da verdade

O close permite ao telespectador o contato com a interpretação do ator através do ângulo de significação que transmite emoção e prazer estético do personagem dramático. Para os atores o desenho psicológico da cena exige uma interação consciente de todos os músculos para a expressão facial plena e cheia de significados. Aqui o olho como espelho da alma ganha a dimensão do céu com seus anúncios de mudanças de tempo como a noite, o dia, o raiar do sol, a nuvem escura ou temporal com faísca. O cineasta russo Sergei Eiseinstein, pai da linguagem audiovisual moderna, classificou o close como o pregador da verdade.

Para o intérprete o close-up permite ser deus na construção do universo da alma. O telespectador consegue ver através dos olhos algo que não está na telinha. E apoiado nos elementos estéticos da edição que acompanham a imagem: ruído, diálogo, música e cor. O close-up cria os simbolismos e sua utilização correta e pontual não deixa cair a edição num truque artificial de emoções por segundo que pode se tornar um chavão. As imagens contém algo mais do que a simples comunicação, isto é, quando significam mais que relações ótico-espaciais na procura de íntima ligação com o telespectador.

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