quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Pedro Bial: o corifeu do BBB



O ótimo texto Os heróis de Pedro Bial, de Washington Araújo, publicado no Observatório da Imprensa, dia 24 de fevereiro de 2009,inspirou a produção da reflexão abaixo. Há algum tempo estava analisando a performance do apresentador do BBB ou Bial Bial Bial? Vamos lá:



O corifeu, personagem do teatro grego, era a alma das tragédias e comédias dos primeiros tempos da encenação. Considerado o chefe do coro enunciava partes isoladas do texto. Uma figura como o maestro, padre, delegado, professor, pai, líder, carrasco ou general da banda. Membro destacado do coro podia dialogar com os atores. O jornalista e apresentador do Big Brother Brasil, Pedro Bial, há nove anos, encarna papel de animador do programa que festeja o corpo, a intriga, o verão, as férias, o milhão, a festa, o jogo, atravessa o carnaval e desaparece na quaresma. Com direito à escrita da moral da história, ao final de cada paredão, que promove a simbiose entre o dramaturgo da vida real ou repórter poeta (culpado?) da criação.

Os textos sofisticados, já famosos na trajetória de Bial na crônica jornalística, produzidos para o eliminar o “brother” do paredão, revelam pistas do seu pensamento e de que o resultado de quem vai para a rua já é conhecido antes mesmo da sentença ou vaticínio “está encerrada a votação”. A autoridade do programa se estampa no tom de voz do apresentador e textos como “para mandar o fulano para rua”, “para botar para fora”, “para mandar para a roça” enfim, construções de expressões que desconfortam os participantes do programa. Atua como o Salomão pós-moderno no drama das mães que disputam filhos no discurso imperativo da publicidade: vote, ligue, participe e compre.

Humor ferino

Bial faz o escárnio dos confinados na jaula ou prisão de luxo. Personifica o domador no círco do ridículo. É o algoz, carrasco ou o churrasqueiro que salpica e “assa” os aspirantes ao sucesso. Quando os chama de heróis destila veneno e ironia. É próprio do apresentador. Ele é o herói. No cenário que lembra um picadeiro, ou arena, os “brothers” são os cristão novos entregue aos leões: nós, o público. Bial como Fausto, de Goethe, celebra e ri, por dentro, de todos e dele mesmo. Perde o amigo, mas não perde a piada ou o poder. Dá respostas grosseiras aos confinados sob o aval da desconstrução, da aproximação artificial, da brincadeira ou virtuose. É o humor que castiga homens e costumes. O chicote é a fala. É vitorioso no comando da massa.

Herói é a sua metáfora ou exercício de autoflagelação pela performance inspirada em Chacrinha, que além de irreverente também era sádico, ridicularizava a todos sob a proteção da telinha e balançava a pança. Conhece-se espectadores que tinham medo do Chacrinha! Bial está magrinho! Elegante e charmoso. Tem centenas de súditos no estúdio e milhões de fiéis esparramados pelo mundo. É dele o poder divinal! É o único que pode abrir a “porta do céu”... Ao final de cada edição está pleno, inflado e feliz. Ou melhor, saciado! E aí vem o seu melhor: na entrevista com o eliminado, ao final do programa, mundo o tom farsesco, da inflexão incorreta, desaparece o algoz e, no tom humano, volta o homem sensível, boa praça e de sandálias franciscanas.

Doação e falas de mago

A casa como é chamada o local de concentração dos BBB pode remeter à clássica casa grande, do Brasil colonial, onde viviam os poderosos e na senzala, o resto do Brasil, fora do Projac, onde vivem os pobres mortais, que ainda podem comungar do mundo divino da TV, doando espórtulas por ligações telefônicas. Esse é o objetivo dos reality shows e da interatividade que estão dominando a cena televisiva brasileira: a salvação da lavoura das emissoras em tempos de críticos índices de audiência. Bial é coronel da casa. Vai doar uma “fazendona” ou dote de um milhão de reais para um pobre do país da anestesia.

Em duas entrevistas à revista Imprensa, em 1997e 2005, seu perfil foi detalhado. Na primeira surgiu como o carismático apresentador e a nova cara de domingo como apresentador do Fantástico. Posou com a filha Ana e fizeram língua para a foto. Na segunda entrevista, já com os cabelos grisalhos, se defendia com sorriso franco, do patrulhamento sobre sua participação do BBB e da antológica citação após a apresentação do balé Kirov, quando fez o comentário “Isso é coisa de viado”. Lamentou a escravização da imagem no telejornalismo. E afirma que “todo mundo fala em fato, mas só conhece versão. Você tenta falar do que interessa, mas o que vende jornal é fofoca...” e a entrevista destaca trechos do livro Crônicas de Repórter, onde ele afirma que “repórteres podem ser advogados de causas perdidas, padres confessores, carrascos, redentores. Tem noites de médicos e dias de coveiros. Alguns diriam abutres. Mas como dizem os tiras, “alguém tem que fazer o trabalho sujo’...”.

2 comentários:

Unknown disse...

ESSE É O MEU AMIGO... QUANTA SAUDADE... AMEI SUA LEVEZA E SUTILEZA AO MENCIONAR NOSSO QUERIDO BIAL!!! BEIJOS

Jean Gutti disse...

Robson terra, adorei conhecer seu blog, adoro seu trabalho, concidentemente vi uma entrevista sua na radio ces,feitas com amigas minhas de lá da faaculdade.

vou adicionar seu blog.
estou cumeçando agora tanto no blog quanto na comunicação e no teatro que no momento nao estou fazendo mais.espero aprender bastante com suas experiencias.