sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
O primeiro milagre do menino Jesus
Hoje tem espetáculo? Tem sim, senhor...Lá na rua do buraco?... Tem sim, senhor... Hoje tem alegria? Tem sim, senhor... No nariz da sua tia? Tem sim, senhor... E assim o palhaço seguia pelas ruas da cidade, às cinco da tarde, sol escaldante, anunciando o próximo espetáculo do circo, com a meninada atrás gritando e garantindo a entrada na atração da noite. A fala do palhaço e das crianças remete, na memória afetiva, ao Primeiro Milagre do Menino Jesus, peça teatral do italiano Dario Fo em que a história poética do menino Deus é tomada a partir dos evangelhos apócrifos, um conjunto de histórias ligadas à vida de Jesus e dos apóstolos. Existem centenas deles. Aqui recordamos o “proto-evangelho” que narra a vida de Jesus da fuga o Egito até o momento em que ele volta do deserto. Nos quatro evangelhos oficiais, não se fala de fato desse período, mais ou menos vinte anos da vida de Cristo.
Jesus pequeno, faz com que pássaros voem e protege seus companheiros, reagindo à arrogância daqueles que pretendem destruir sua criação. O humor ferino caústico de Fo, famoso na Itália, relata os anos da infância do menino Jesus naquele período que não foi permitido aos evangelistas contarem.
Um dia Jesus vê crianças brincando de pula-sela, esconde-esconde, bandido e mocinho. Quer brincar e não é aceito pelo grupo. “Não. Fora, Palestina!” e chorava em sua solidão de menino. Sua mãe dizia: “Não sai por aí fazendo milagre que se descobrem que você é filho de Deus...chegam os homens do Herodes e toca a fugir de novo”. Na praça havia uma fonte. Perto dela, só terra. Argila para fazer tijolo. O menino pega um pedaço de terra, esculpe um passarinho e assopra...O passarinho de barro abre as asas e voa.
Um garoto chamado Tomé precisa ver para crer. As crianças criam linguiça, cobra, gato, bostona e uma torta. O pequeno assopra: PFUUUU...todos voam. Chegam meninos de todos os cantos. Brincam, riem e cantam. De repente: TRAC! O portão da grande praça se escancara, um cavalo preto montado por “um menino com cara sadia, olhos de malandrinho, cabelo bem penteado...plumas no chapéu, terno de veludo e seda com um colete de rendas.! Rico! O filho do patrão. Sabendo do feito de Jesus o garoto rico fica vermelho. Enfurecido. “Conta para mim, do que é que você estão brincando?” Não! O filho do patrão destroi com os cascos do cavalo todos as figuras de barro.Tudo quebrado, esfarelado. O menino Jesus grita “Paiêêê!!” As nuvens se abrem. O Padre Eterno se debruça entre as nuvens e pergunta o que aconteceu. O Pai concordou: “Você tem razão. Devo concordar que quebrar, destruir sonhos e brincadeiras de fantasias das crianças é a pior das violências...Mas, meu amor, ele é uma criança...O que é que eu devo fazer?” O menino gritou: “Mata!” Deus argumentou: “Mas, querido, fiz você descer do céu justamente para ensinar a paz aos homens, para falar de amor. E na primeira vez que alguém te faz alguma coisa, você que matá-lo? Faz o que bem entender.” Sumiu nas nuvens!
FFVVUUUUOOOMMMM! Dos olhos do menino Jesus sai um tremendo raio. Uma língua de fogo se enrosca no pimpolho rico, derruba, contorce-o, joga o filho do patrão no chão.Vira uma estátua de terracota fumegante. Maria, que ouvira de longe os gritos, chega correndo. “Menino o que você fez?” Era o seu primeiro milagre. Inocentemente disse: “Olha, ainda está quente.” A mãe insistiu....“Ressuscita rapidinho”... Não queria obedecer a mãe. “Ressuscita!” TUM! O menino Jesus deu um chute na bunda de barro, o garoto rico, em carne e osso, ficou em pé e perguntou o que aconteceu... Escutou: “Se começar a pensar, a raciocinar, e fazer maldades, toma cuidado que você vai crescer de tanto chute que vai levar.” Amém.
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