terça-feira, 12 de agosto de 2008

A voz fingida dos atores


A sonoridade vocal é determinante na carreira do profissional do audiovisual. Jornalistas, atores, cantores têm no requinte da emissão do texto, elemento definitivo para o mercado de trabalho. As vozes matizadas fizeram a história de centenas de nomes do rádio como Roberto Faissal, Daisy Lúcidi, Heron Domingues, Lúcia Helena, César Ladeira e Ísis de Oliveira. A MPB se renova em timbres belíssimos. Ney Matogrosso encanta gerações! A história não esquece de mitos como Vicente Celestino, Elizete Cardoso, Dalva de Oliveira, Vanusa, Elis Regina, Carlos Galhardo, Maysa, Cauby, Marlene e Emilinha Borba. A voz de veludo de Íris Letieri é conforto e alivio de tensões nos embarques do aeroporto do Rio. No telejornalismo a voz é complemento da competência profissional. Cid Moreira, Hilton Gomes, Heron Domingues, Márcia Mendes, Leda Nagle, Leila Richers, Sônia Maria, Carlos Nascimento, Berto Filho, Gioconda Brasil, Celso Freitas, Renata Vasconcelos, Ana Paula Padrão são ícones de ontem e hoje. E os atores? Ainda nessa edição...

Na obra “Réflexions sur le Théatre”, J. L. Barrault compara a voz do ator a uma orquestra: “o ator, nas suas mudanças de voz faz vibrar alternadamente seus instrumentos de corda, suas madeiras, seus metais, e mesmo sua percussão. É por meio dessas mudanças que a vida aparece, o ator manifesta sua presença”. A bela voz define parte do sucesso da carreira na TV, e teatro.O rádio está se desligando dessa tradição. Atrizes com voz grave, semitonada, impostada e com inflexões variadas atuam na dramaturgia como referência. As vozes femininas agudas ou infantis são mais comuns nos programas de humor.

Michel Chion mostra a que a voz off é a voz do saber e poder no cinema, pois domina as imagens e proporciona sentido que vai além do que elas mostram. Carrega potencial de sedução e que, nove entre dez vezes, a voz na publicidade e documentários é masculina. O timbre feminino não é conclusivo deixando a frase em aberto, exceto em poucos produtos raros dirigidos à clientela feminina. Provoca ruído na assimilação. Atores que não inflexionam corretamente fazem uma novela e não voltam mais. Repórteres que não desenham a curva melódica das frases nas notícias não fazem carreira em rede. Não encontraram seus tons naturais. Fica artificial. E os locutores de futebol no rádio? Disputam olimpíada sonora a cada transmissão.

Os manuais de voz e dicção descobriram Legouvé e suas classificações para os timbres conhecidos. A voz de ouro é resplandecente e transmite alegria e intensa emotividade, assim Cid Moreira, Fábio Perez, Fernanda Montenegro, Glória Menezes e Sílvio Santos poderiam formar um coral. A voz de bronze é a voz de protagonistas de novelas. Tão grave como a voz de ouro, porém mais grave e volumosa remete a Christiane Torloni, Vera Fischer, os Gonzaga: Castro e Reinaldo, Lombardi, Paulo César Pereio e Dina Sfat. Já Eva Vilma, Cássia Kiss, Regina Duarte, Theresa Amayo, Maria Zilda, Elizabeth Savala e Ana Paula Arósio são donas do timbre doce e macio, grave e tranqüilo que emociona, revela ternura, tristeza e nostalgia da voz de veludo. E a voz de prata? Suave, clara, delicada para momentos de lirismo, delicadeza, ingenuidade e graça é o padrão de Leandra Leal, Cleo Pires, Maria Helena Pader, Lídia Brondi, Beatriz Segall, Suzana Faini, Irene Ravache e Nívea Maria. A voz cavernosa é aquela do Gil Gomes, Sargentelli e do locutor do “Nada Além da Verdade”. Arrepiante!

Se o pintor utiliza tons fortes e fracos, meios tons e aquarela de cores no ofício, na sonoridade o ator faz a comunicação do discurso. Titãs da interpretação sabem que as palavras têm o som do sentido que as contêm. Cada termo tem expressividade específica. Experimente repetir os vocábulos água...água; ou fogo...fogo. Eles “se parecem” com o sentido que transmitem. Os profissionais de excelência utilizam as pausas das vírgulas, os estudo do subtexto (o que está na cabeça do ator quando ele emite uma fala). Os aspectos técnicos remetem à boa dicção, modo de interpretar, às pausas respiratórias, inflexões e até aos silêncios. E desde a pré-história e na Antiguidade a linguagem oral foi o principal meio de comunicação. Exercícios respiratórios e técnica vocal são ferramentas básicas do ator que precisa fingir para dizer com a sinceridade do personagem.Complexo.

Um comentário:

Mayla Martins disse...

Realmente a voz masculina predomina na publicidade e a linguagem oral,ainda continua sendo o nosso meio de comunicação com o mundo. Precisamos dela quase que 24 horas do nosso dia não é?!!! Hehehe...bjocas.