sábado, 24 de maio de 2008

Hegemonia da Rede Globo e Anarquia Midiática


A turbulência que o novo tempo midiático promove na história da Rede Globo de Televisão é sintomática de um novo posicionamento estratégico de dominação. Com a competência de seus profissionais e a influência histórica junto aos detentores do poderes legislativo eexecutivo, que ela ajuda a eleger ou cassar, a vulnerabilidadeainda não se consumiu, embora os novos índices de audiência sejam preocupantes. Enquanto ela continua a dar direção e união à sociedade, promover a escalada de valorização de referências da cultura brasileiraem sua programação, a estabilidade está garantida. O seu conteúdo promove subliminarmente o abalo das instituições, apresentando policiais idiotas, famílias desestruturadas, padres comilões, professores aloprados, universidades anárquicas, e reforça a estratégia de demolição de valores com a história do Brasil contadano Fantástico, pelo autor Eduardo Bueno, de forma irreverente, mas com o aval global de Pedro Bial. Se Bueno anarquisava, Bial era a consciência, a figura do Grilo Falante, na fábula de Pinóquio.
Se a revisão da Lei Geral das Comunicações, artigos 220 a 223 da Constituição Brasileira, indefinidamente adiada por "forças ocultas" for aprovada, as telefônicas, grandes anunciantes da TV, poderão gerar conteúdo e entrar na concorrência direta com as emissoras brasileiras. Aí se instaura o caos. Concorrência na produção de conteúdo e fuga de anunciantes da telinha tradicional. Essa reestruturação estratégica de poder conta com o apoio e prestígio do governo que empurra a regulamentação da produção de conteúdo em câmara lenta. Claro que a reeleição do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não foi a melhor solução para a emissora que pretendia ver eleito ocandidato da oposição Geraldo Alckmin. Mas com o poder deinfluência que detém mandou dois recados sintomáticos no dia da eleição parapresidente, em 2006. Na Temperatura Máxima, exibida na hora da eleição, exibiu o filme "O Náufrago"onde Tom Hanks interpreta um homem que sofre um naufrágio e vive só, por quatro anos, em uma ilha deserta. Na madrugada, com o resultado da eleição definido, em favor de Lula, ressuscitou o clássico "Os Dez Mandamentos" de Cecil B. Mille, onde Moisés recebe as tábuas da lei de Deus. Mais metafórico impossível.

Na viagem sem destino do navegar aleatoriamente, as salas de bate-papo, vídeos no Youtube, os sites sobre música, quadrinhos, compras, pesquisas escolares , leituras de artigos, postagem de fotografias, revistas, sexo e jogos, jogos e mais jogos, no entretenimento digital, o usuário da internet abandona a tela da Globo, aos poucos, buscando outras formas de lazer, fantasia e ou informação. A democratização da tecnologia de mídia faz de cada cidadão o próprio gerador de discursos e o tempo dispendido em ver as fotos ou postar nos fotologs promove uma revolução na geração de imagens sem a imposição ditatorial da emissora A ou B. Todo mundo é mídia. A anarquia midiática não tem limites. Jovens não querem mais ver TV. Querem ser donos do seu próprio universo de meios e mensagens. Além dos atributos de pesquisa da informação para as tarefas escolares, o jovem, muito ligado à tecnologia, busca novas tribos na NET e é aceito no convívio social como alguém que está por dentro e inserido no contexto cultural pós-moderno. As comunidades são consideradas as grandes formas de interação do mundo digital onde os iguaisse identificam além do mar. E o pior se vizinha, pois as pesquisas indicam quea terceira idade está vencendo o medo do computador. E todas as saudades, a terapia de reminiscências, estão disponíveis na Internet.

E encerrando com Gabriel Priolli "há portanto um novo receptor e não mais uma única emissora. O público se lança em todas as direções, percorrendo as várias opções, detendo-se alternadamente no que mais lhes toca e atrai". De forma sintética, pode-se dizer que, hoje, a Globo enfrenta de um lado, novas maneiras de ver TV e, de outros, novas maneiras de fazer TV". O "plim-plim"não seduz como ontem. Mas ainda não é o "fim-fim".

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Professor da UNIVERSO discute queda da audiência da Globo em Congresso de Mídia




O professor da UNIVERSO/Juiz de Fora, Robson Terra, participa, nesta semana, do VI Congresso Nacional de História da Mídia, em Niterói (RJ). O professor, que também é ator e diretor, apresenta o artigo ‘O poder, a glória e os sustos da velha senhora: a Rede Globo descobre que tudo que é sólido se desmancha “no ar” ’, sob a coordenação da professora Rosa Maria Dales Nava. A partir dos estudos de Sérgio Mattos no livro A História da Televisão Brasileira, o artigo pretende ampliar a reflexão sobre as páginas da produção audiovisual no país com a implantação de novas tecnologias, quando a Rede Globo de Televisão dá sinais de perda da hegemonia de audiência que pontuou os quarenta anos de sua história. “Pretende-se ampliar a discussão sobre o momento emblemático e significativo para a história da comunicação audiovisual no Brasil. A pulverização de mídias promove a democratização de audiência, retorno estratégico à fase populista da programação, estimulando a concorrência e estabelecendo a distribuição mais equilibrada do bolo publicitário.”, explica Robson. “A novela Ciranda de Pedra, superprodução no horário das seis, registra só 24 pontos no Ibope. A menor audiência em estréias na década.”, cita.
O evento é promovido pela Intercom, UFF e Rede Globo, através da Globo Universidade e vai até 16 de maio, na Universidade Federal Fluminense, em Niterói. A maioria dos palestrantes convidados já confirmou presença. Participarão do evento os seguintes pesquisadores latino-americanos e europeus: Juan Garguverich (Peru), Celia del Palacio (México), Mirta Varela (Argentina), Jorge Pedro Sousa (Universidade Fernando Pessoa - Portugal), Luís Humberto Marcos (Museu da Imprensa - Portugal), Isabel Vasques (Universidade de Coimbra - Portugal).
Entre os congressistas brasileiros estão confirmados os seguintes pesquisadores: Ana Maria Mauad (UFF), Ana Paula Goulart Ribeiro (UFRJ), Sonia Virginia Moreira (UERJ), Marco Morel (UERJ), Humberto Machado Fernandes (UFF), Alzira Abreu (FGV/CPDOC), Esther Bertoletti (Projeto Resgate-MINC).

Fonte: www.universo.edu.br/notícias
Autor: Raquel

terça-feira, 6 de maio de 2008

No limbo


Fiquei sensibilizado com o desabafo de Carlo Mossy, que acompanho desde a década de 70, publicado no site de Patrícia Kogut.O ator reclama da falta de trabalho.Ele se sente "no limbo" como codificou Artur da Távola, em 1977, em artigo de "O GLOBO". Diz ele, com sabedoria inigualável: "O limbo é o lugar onde alguns artistas passam anos e anos....São conhecidos mas nem sempre têm trabalho...aparecem, mas sem continuidade.O artista no limbo padece sozinho...A extrema necessidade dos meios de comunicação, de concentrar em uns poucos artistas a maior parte dos convites e da força de sua programação, torna mais difícil ainda a vida os que estão no limbo do sucesso....Não obstante ele é uma fase criadora e de teste do artista na sua fidelidade à arte...Em qualquer profissão a gente sempre tem a fase do limbo...Mas entre os artistas ele me comove mais".
Tento aliviar a dissonância cognitiva que Mossy atravessa. Isso sem considerar o processo de juvenilização que assola a produção da TV.O ator deve criar alternativas de trabalho artístico no teatro em produções alternativas

sexta-feira, 2 de maio de 2008


Novela das seis recupera a hora do terço

Desejo Proibido: a Fé como Ibope
Notícia publicada no excelente blog de Patrícia Kogut, de O GLOBO, em dois de maio, mostra a declaração do autor da novela das seis, Walther Negrão sobre a alavancagem da audiência do horário. O último capítulo rendeu 32 pontos. Confira: "Autor de "Desejo proibido", novela que chega ao fim hoje, Walther Negrão conta que a temática religiosa pode ter mexido com a audiência da novela. Apesar de muito elogiada pelo público, a novela não passou dos 30 pontos. Nem quando acabou o horário de verão, motivo ao qual foram atribuídos os problemas com a audiência. _ A Globo fez um grupo de discussão no início da exibição. Eram quatro grupos de mulheres debatendo. Em cada um deles havia uma parcela de evangélicas. Elas admitiram estar assistindo a novela escondido por causa da presença de uma santa na história" A citação do autor da novela das seis vem confirmar e revelar pistas para a pesquisa que desenvolvo para a dissertação de mestrado. O objeto de pesquisa remete à televisão dos anos de 1964 a 1975, a chamada Fase Populista, quando a TV Globo era um modelo de avanço tecnológico e com uma programação grotesca que tinha referência popularesca nos programas de Dercy Gonçalves, Raul Longras etc. Para alavancar a audiência naqueles tempos, a Globo, que entrou no ar em 26 de abril de 1965, pode ter buscado nas referências religiosas a concepção de signagem e simbolismo na programação.
O Brasil vivia o estado de anomia, que, segundo Émile Durkheim, é o estado em que desaparecem as referências do homem. O momento em que antecede o suicídio. O cidadão comum, do povo, o devoto que prestigiava a Igreja Católica daquele momento, se viu perdido, sem referência, em anomia, com as profundas alterações do rito católico pós-Concílio Vaticano II. A população brasileira pode ter transferido para a programação da televisão a fé que antes devotava aos santos e milagres. Os estudiosos das novas mídias como Thompson afirmam que: "o desenraizamento das tradições não as conduziu ao
definhamento, nem destruiu completamente a conexão entre tradições e unidades espaciais. Pelo contrário o desenraizamento foi a condição para a reimplantação das tradições em novos contextos e para a nova ancoragem das tradições a novos tipos de unidades territoriais que iam além dos limites das localidades compartilhadas". Assim a tradição se renova na mídia de entretenimento que busca na tradição representações para despertar a nova compreeensão do universo com dois elementos que exigem grande percepção: o rito da religião e da televisão.
Sempre que precisar recuperar audiência os elementos simbólicos das denominações religiosas podem ser estratégicos. Pierre Bourdieu no livro Sobre a Televisão
(1997) deixa perceber que a televisão enquanto meio de expressão do pensamento pode se transformar em um instrumento de opressão simbólica.