sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Telepresença: o templo da imagem
Quando os irmãos Lumière projetaram a imagem em movimento no Salão do Índio, subsolo do Gran Café, em Paris, em 28 de dezembro de 1895, com a primeira sessão pública do invento chamado “cinematógrafo”, com o trem chegando à estação, alguém da platéia correu apavorado, fugindo da sala, com a projeção do trem sobre ela. O mito da caverna de Platão, escrito há uns 400 anos antes de Cristo, no livro 7 de seu tratado sobre “A República”, comparava o mundo a uma vasta sala escura, onde os homens assistem, imobilizados a uma constante de espetáculos de sombras. A sombras chinesas encantaram a França.
As sombras do Gato Preto, silhuetas humanas, recortadas em zinco, passeando por trás de uma tela branca de um metro de largura transmitiam todas as emoções dos enredos. E as imagens feitas com a mão projetadas na parede, nos dias de chuva? Encantamento puro. Depois da base o realista do cinema com os filmes “feitos ao sol” de Lumière, o mago George Méliès construiu o primeiro estúdio e criou o ilusionismo na tela, a base fantástica do cinema. Méliès é rei dos efeitos especiais que influenciaram diretores e encantam platéias até hoje.
Tecnologia e traquitandas
Já em 1934, Paul Valéry profetizou: “o espantoso crescimento de nossos instrumentos, e flexibilidade e a precisão que eles atingiram, as idéias e os hábitos que introduziram, nos asseguram modificações próximas e muito profundas da antiga indústria do Belo”.
Na infância existiram fotografias que, sob a pressão dos dedos, forneciam a imagem de uma luta de boxe, ou de uma partida de tênis. O velho monóculo, nos anos 1960, que colocado nos olhos dava à foto a dimensão do cinema na caixinha de plástico colorido. Ou o caleidoscópio que cria labirintos de pedras, luz e cor. Até a chama do isqueiro promove encantamento assim como a luz do vaga-lume na noite escura.
Na TV, a magia da transmissão “ao vivo” seduz gerações. Antes da chegada do videoteipe tudo era transmitido em tempo real, gerando o que Jost chama de “modelo de promessa”. A transmissão da chegada do homem à lua, em 1969, deu à TV brasileira um referencial de divino, pois “estar na lua é estar perto de Deus”. O homem chegou lá. As imagens coloridas, em 1972, na telinha da TV, alucinaram o Brasil. A tecnologia transforma o mundo para o bem e para o mal...
Telepresença
Na eleição de Obama, figura emblemática constituída por simbolismos diversos, a cobertura da votação provocou novo impacto como o pião mágico multicor girando destinado “a verificar o tempo em que as imagens persistem no fundo do olho”. Antes de continuar a leitura veja o filme:
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http://edition.cnn.com/video/#/video/politics/2008/11/04/blitzer.yellin.hologram.obama.cnn?iref=videosearch
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Chocante! A repórter Jessica Yellin, a 1.150 quilômetros de distância, em Chicago, surge como um milagre televisivo em 3D na cobertura da celebração da vitória de Obama. Segundo Veja, “a técnica empregada pela CNN foi a telepresença 3D. No parque de Chicago, 35 câmeras de alta definição, filmavam Jéssica sobre um fundo verde, captando seu corpo sob todos os ângulos. As imagens eram enviadas a vinte computadores, que as juntavam e reconstruíam a figura de Jéssica à perfeição... Jessica foi incrustada num cenário, como se faz com as apresentadoras da previsão do tempo, só que por meio de uma imagem virtual eletrônica”.
Como truque de mágica a cena entra para a história da TV mundial. O futuro volta ao passado na percepção da imagem que entorpece de ilusão, consentida e consciente, Conforme Aumont “a ilusão foi valorizada, de acordo com as épocas, como objetivo desejável da representação, ou ao contrário criticada como mau objetivo, enganoso e inútil”.
“O que será o amanhã?”
Desde a Grécia com o quadro pintado por Zêuxis com uvas tão bem imitadas que os pássaros vinham bicá-las, às aparições “milagrosas” dos santos para os puros, às miragens do deserto, a ilusão teatral de grande apelo sensorial, os fantasmas, os sonhos constantes e indecifráveis, os truques das imagens trazem Kant que designava assim: “o sentimento de um prazer e ou de um desprazer” que atende à necessidade de vivenciar emoções fortes como medo, surpresa, novidade, bem-estar de corpo e mente. Esse envolvimento explica e traz para o fato real, a cobertura da vitória do mítico Obama, recursos do mundo ficcional fantástico do cinema, em efeitos divinos, para apresentar a realidade que o jornalismo da TV precisa transmitir em tempo real. Mesmo com todos aqueles truques. Evoé!
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2 comentários:
Super Robson Terra,
neste artigo você foi além dos impactos midiáticos e seus fantásticos recursos tecnológicos e soube transmitir, em seu texto, um certo toque de magia ao que assistimos.
Parabéns pela capacidade de amalgamar tão bem o ilusionismo, a memória, o virtual e o real.
Você, mais uma vez comprova, o adjetivo com o qual o apresentador Jô Soares pronunciou ao se referir a você.
Você é um homem multi.
Obrigada pelo exemplo de estar sempre em busca ávida pelo conhecimento.
Você merece nossas reverências e me sinto honrada de partilhar de sua amizade.
Que Deus lhe derrame bençãos.
Ósculos mil
Claudinha Figueiredo
Nome: aurélio de freitas
E-mail: aureliodefreitas@terra.com.br
Cidade: juiz de fora - mg
Artigo: Telepresença: o templo da imagem
Comentário: É importantíssimo ressaltar a inteligência da CNN ao utilizar essa tecnologia a favor da informação e da comunicação. Milhões foram gastos para que esse projeto fosse colocado em prática. Os telespectadores corresponderam a esse momento, dando^à CNN o maior índice de audiência dos últimos anos. Ponto a favor da comunicação. Mas é importante deixar um questionamento, que, acredito, já ter a resposta. Será que a utilização desse recurso tecnológico, o mesmo já usado por produtores e diretores de hollywood, em filmes como Guerra nas Estrelas, teria o mesmo impacto e retorno se não fosse o momento em que ele foi usado? Aliar um impacto e divulgação tecnologica, ao maior momento da história política de um país, sem dúvidas foi a maior sacada da história da TV mundial.
Data: 16/11/2008 - 01:31
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